Orquestra Afro-Brasileira

por Felipe Siles

1947: Orquestra Afro-Brasileira (Osvaldo P. Barbosa)

O Novo Horizonte, edição de outubro de 1947

A Associação dos Negros Brasileiros, se bem que funda há pouco tempo, já conta em sua existência com grandes iniciativas realmente dignas de admiração e aplauso. Os esforços que tem despendido no afã de poder no mais breve espaço de tempo concluir os seus planos de ação, que outros não são senão os de se constituir tão logo que seja possivel em uma organização pronta a cobrir as necessidades que sempre existiram em torno do problema social negro. Assim é que, na parte social constantemente a coletividade negra de S. Paulo, vê-se alertada do marasmo que por vezes fica possuida, pelas realizações em sentido unificador, da já muito admirada A.N.B.
A ultima, tivemos em 12 de Outubro passado, com a realização do concerto aos cuidados da Orquestra Afro-Brasileira do Rio de Janeiro, sob a regencia do grande maestro Abigail Moura, o acontecimento inedito que veio derramar satisfação no espirito daqueles que amam a musica e sobretudo as de origem africana.
Dias antes do concerto notava-se grandiosa expectativa, e razão para isso existia de sobra, pois, constituia uma novidade absoluta a apresentação de Abigail Moura à frente de sua Orquestra Afro-Brasileira, desconhecida que era por muita gente aqui em São Paulo a sua existencia.
O Conservatório Dramatico e Musical de São Paulo acolheu em seu auditorio, naquela memoravel noite, uma grande assistencia, sequiosa por ver, ouvir e aplaudir os acordes harmoniosos da Orquestra Afro-Brasileira, tão magistralmente orientados pelo maestro Abigail Moura, ou melhor, “Biga”, como dizem os seus mais chegados amigos.
Dizer precisamente da impressão causada aos presentes os numeros musicais executados, seria uma tarefa simplesmente dificil, pois que em cada fase a olhar e a aplaudir freneticamente e entusiasticamente as composições, a satisfação era enorme. O entusiasmo chegou a tal ponto que contaminou inumeras pessoas fazendo com que acompanhassem, oscilando os braços e a cabeça, em conjunto com o ritmo diferente e penetrante dos jongos, frevos e batuques, magnificamente executados pela orquestra.
Todos os numeros agradaram em cheio, sendo que muitos deles, para contentar a grande assistencia, foram repetidos inumeras vezes. No entanto, pela musica facil e bonita, e assás alegre, sobressaiu-se o jongo intitulado “Noivado de Príncipe”. Tambem um frevo executado extra-programa agradou enormemente os presentes.
O programa executado e dirigido pelo grande “Biga”, também constituiu-se de musicas todas de sua autoria, o que fez ressaltar o seu talento artístico e sua enorme capacidade de criador.
Enfim, quiseramos simplesmente que houvesse outros concertos aqui na Capital, para que os leitores pudessem ver e ouvir aquelas musicas que na cadencia e melodia lembram as lendas de Pai João.
Os nossos parabens e votos de longa vida e constantes sucessos à Orquestra Afro-Brasileira pela magnifica impressão deixada em sua impecavel excursão, e à Associação dos Negros Brasileiros as nossas mais sinceras felicitações pela feliz lembrança em patrocinar o grande concerto, o qual deixou na mente dos que tiveram a felicidade de assisti-lo a impressão de que o negro quando quer, embora lutando com grande sacrificio, pode apresentar tambem no setor musical, trabalhos dignos dos maiores e entusiasticos elogios.

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